São Paulo em Imagens

sábado, 4 de fevereiro de 2012

Chuva


Começou como começaria um ataque no filme “Os Pássaros”, de Alfred Hitchcock: Primeiro uma, discreta, a um canto. Depois, uma segunda, e uma terceira. Logo, todo o céu estava tomado pelas nuvens cinza-escuro da chuva.

Enquanto algumas pessoas buscavam acelerar seus afazeres para escapar da chuva que se anunciava, camelôs trocavam seus CDs e DVDs piratas, suas quinquilharias, por guarda-chuvas e capas. Onde, há poucos minutos, se ouvia apregoar o filme “cópia da locadora”, agora eram anunciados a sombrinha e o “casarão”, o guarda-chuva não dobrável e maior.

A agonia não se prolongou por muito tempo. Como o rufar de tambores que anuncia o início do espetáculo, o trovão não havia terminado de soar quando o céu desabou em uma verdadeira cascata.
Junto com os pingos, a correria dos pedestres. E a preocupação dos motoristas, conscientes do risco – ou certeza – de que o trânsito pararia completamente em alguns momentos.

Marquises, toldos e portas de lojas tornam-se espaços democráticos, divididos por mendigos e donas de casa, estagiários e gerentes, aposentados e desempregados. Algumas pessoas ainda aproveitam para fazer, nas lojas, uma compra por impulso, inventando a necessidade que a justifique. Quando um transeunte mais distraído ou egoísta passa pelo toldo sem desviar seu guarda-chuva, molhando os que estão ali parados, é igualmente xingado pelas vítimas, sem distinção de raça, cor, sexo ou condição social.

Espremido entre os abrigados de um toldo, observo a garota. Pouco mais que uma adolescente. Calça jeans, blusa vermelha, as sandálias plataforma nas mãos, e não nos pés.

Encharcada. Sorridente. Despreocupada. Caminhando como se estivesse a passear, quase a dançar, sob a chuva forte. Pisando propositalmente as poças de água que se formavam ao longo do piso irregular do calçadão. Aparentemente divertindo-se muito com o que faz.

Percebo-me especulando a respeito do que possa ter acontecido. Teria sido colhida pela chuva longe demais de qualquer ponto onde pudesse abrigar-se? Ou teria, apenas, ignorado a água a cair? Seria, como eu, avessa ao uso do guarda-chuva? Ou fora pega de surpresa, sem dinheiro para comprar um? Estaria tão contente, antes da chuva, que não viu grande problema em encharcar-se? Ou simplesmente a chuva lavou-lhe da mente problemas e preocupações menos importantes do que pareciam?

Nunca vou saber, não importa o quanto eu especule. Simplesmente, o que pude fazer, foi ver a garota, sempre a sorrir e a pisar nas poças de água, seguir adiante seu caminho, logo virando a esquina e sumindo de vista, aparentemente despreocupada.

E deixando para trás uma lição há tantos anos esquecida: pode ser muito divertido deixar-se encharcar e caminhar sob a chuva, a saltar nas poças de água.

sexta-feira, 3 de fevereiro de 2012

Amigo Secreto

(Crônica publicada originalmente em blog interno do Banco do Brasil, em 29/12/2011)

Luis Cláudio abriu o pequeno papel e leu o nome sorteado. Um sentimento confuso, misto de alegria, decepção, um pouco de confusão… Não saberia dizer exatamente o que sentia.
Esperara sortear algum nome conhecido, seria mais fácil presentear. Sempre detestou a saída fácil dos vale-presentes. Achava-os como um sinal de pouco-caso para com o presenteado, algo como “eu paguei o seu presente, agora o problema é seu em escolhê-lo”. Mas agora, a situação não era a esperada.
Olhou novamente o pequeno pedaço de papel, mas o nome não mudou. Ana. Não sabia bem o que pensar. Aliás, pouco sabia sobre ela. Tentou repassar os fatos que conhecia.
Ana havia chegado na agência fazia coisa de três meses. Vinha do norte do país, após separar-se do marido. Reservada, pouco falava de sua vida pessoal, e nunca saia com o pessoal para as comemorações de aniversário e happy hours que algum colega eventualmente inventava. Sua pele morena, com os traços visivelmente declarando sua origem indígena chamavam a atenção, bem como sua voz rouca, com um sotaque diferente, e bastante carregado. Isto era tudo que Luis Cláudio sabia sobre ela. Nada que ajudasse a escolher-lhe um bom presente…
Além disto, havia uma outra questão: o mais gostoso do amigo secreto é a brincadeira, a troca de bilhetes antes do dia de trocar o presente. Nada mais sem-graça e fora do espírito que aquelas pessoas que simplesmente ficam quietas e, no último dia, trazem apenas um pacote, que entregam ao seu sorteado e fim. E não era, definitivamente, o que ele queria…
A abordagem escolhida foi um tanto ousada, talvez. Mas Luis Cláudio nunca foi exatamente um tímido, então não veria problemas em sustentar, na revelação, a brincadeira que estava iniciando…
. . .
Ana releu com um soriso o primeiro bilhete recebido, um galanteio delicado, escrito em um linguajar antigo, mais do que fora de moda. A assinatura combinava com o texto: D’Artagnan.
Respondeu ao galanteio mais ou menos no mesmo tom, divertindo-se em fazê-lo. E passou a aguardar ansiosa o que mais viria…
. . .
Os bilhetes se sucederam, as trocas entre os dois eram sempre mais que diárias. Ana ainda tentava ficar de olho na caixa de bilhetes, tentando perceber quem ia à mesma com tanta frequência como ela. Sem quyalquer resultado, uma vez que Luis Cláudio desdobrava-se em criatividade para que ninguém pudesse perceber suas frequentes idas à caixa.
A partir do próprio estilo do texto dos bilhetes, os galanteios e brincadeiras foram tornando-se dia a dia mais ousados. “Espada” e “mosquete” proporcionaram duplos sentidos que não foram tão rejeitados assim, contribuindo para aumentar, ainda que cuidadosamente, a ousadia de seu autor.
. . .
Ana chegou a pensar em dar um corte quando os galanteios começaram a ousar mais. Mas, por outro lado, estava tão bom sentir-se alvo de atenções, sentir-se desejada… Mesmo que fosse apenas uma brincadeira… Optou por deixar seguirem, apenas tendo um cuidado maior nas respostas. Um pouco de trabalho extra, mas que certamente valia a pena. Isto seria importante, para que, na revelação, pudesse cortar qualquer iniciativa mais ousada, se fosse algum colega mais saidinho. Especialmente se fosse algum colega casado, pensando em alguma aventura.
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Finalmente chegou a sexta-feira da festa! Jantar à noite, em local devidamente contratado para o evento. Ana já havia passado toda a semana pensando em como se vestiria, como se arrumaria. Sua primeira festa aqui, estava preocupada. Achava que a roupa não poderia ser sóbria demais, mas também não poderia parecer “atirada”. Acabou optando por um vestido amarelo-claro, sem mangas, que lhe realçava a cor da pele. Na sua visão, um meio-termo entre a ousadia e o formalismo.
. . .
Ao ver Ana entrar na festa, pela primeira vez desde que começou com a brincadeira, Luis Cláudio sentiu um arrepio de nervosismo a percorrer-lhe a espinha. Achou-a mais linda que nunca. Será que não teria ido longe demais com a brincadeira? Qualquer passo em falso, qualquer palavra que ela não gostasse, e poderia ser grande a chance de ele virar o palhaço da festa…
. . .
À medida que o amigo secreto prosseguia, Ana ficava apreensiva. Os palpites que imaginara estavam  todos se esgotando. Por sugestão de algum colega, a brincadeira fora invertida. Cada pessoa tinha três tentativas de adivinhar quem a sorteou, se não acertasse, pagaria o mico de dançar “Conga, Conga, Conga”. Ela já se preparava psicológicamente para a dança.
O sorteado por Ana não acertou seu nome e, após o pagamento do castigo, ela avançou e entregou-lhe o presente. Era agora…
Passou os olhos pelos presentes. Mais da metade já havia sido revelada, o que poderia facilitar as coisas. Havia mais homens que mulheres na brincadeira, então ela poderia eliminar todas as mulheres que faltavam. Os homens que faltavam eram, como ela temia, todos casados, exceto…
- Luis Cláudio!
O assombro, apesar de generalizado, foi muito mais visível na expressão de seu amigo secreto. Luis Cláudio avançou para o ponto onde ela estava, entregando-lhe o presente. Discretamente, durante o beijo de praxe, perguntou a Ana:
- Como descobriu?
Ana limitou-se a sorrir e afastar-se dele, mantendo a curiosidade, por enquanto… Luis Cláudio procurou rapidamente seguir adiante com a brincadeira, mas acabou também tendo de pagar a dança, para seu desespero. Tão logo se livrou, correu até onde Ana estava, e repetiu a pergunta:
- Como?
- Simples! Olhei para quem faltava e, entre eles, escolhi quem eu esperava que fosse. Dei sorte!
- Sorte dei eu, em tirar você! Espero que não tenha sido muito ofensivo na minha brincadeira…
Ana riu:
- Um pouco, sim. No começo, cheguei a pensar em reclamar, mas deixei para lá, afinal não era nada assim tão grave, e somos todos adultos…
A conversa continuou. Desde que começaram a trabalhar juntos, era a primeira vez, de fato, que poderiam saber um pouco mais um do outro. Descartar ideias pré-concebidas, da maneira que apenas conversando se pode descartar. Quando foi servido o jantar, procuraram sentar-se juntos, e continuar o assunto.
Ao final da noite, Luis Cláudio acompanhou-a até o carro dela. Despediram-se, ainda um beijo no rosto, mas um abraço um pouco mais demorado.
E a certeza de que o melhor presente de amigo secreto que ambos haviam ganho não era o objeto em suas mãos…

Rotina

(Crônica originalmente publicada em blog interno do Banco do Brasil em 25/10/2011)

Sem abrir os olhos, estica o braço para o celular, tateia e aperta o botão que lhe daria mais 10 minutos de sono. Antes, porém, que volte a tocar, levanta-se, para iniciar o cumprimento da rotina diária.
Banho tomado, dentes e cabelos escovados, a roupa separada cuidadosamente na véspera vestida, e ganha a rua, comendo um pedaço de pão. Se fosse parar para tomar café, perderia o ônibus.
Mal chega ao ponto, já lotado, começa a chuva. Tenta abrigar-se de algum modo na porta do bar, maldizendo o dinheiro gasto na escova perdida. A roupa, escolhida e preparada com tanto cuidado, que se molhou toda, acaba de ficar estragada quando chega o ônibus e a multidão se aglomera, tentando todos entrar sem fechar seus guarda-chuvas, numa clara tentativa de desafiar a lei física que diz que dois corpos não podem ocupar o mesmo lugar no espaço, ao mesmo tempo.
Vai sendo conduzida, pela pressão do movimento das pessoas, até o ponto crucial em que seria obrigada a passar a catraca, para não ser esmagada, mas ao mesmo tempo é impossível girá-la, tamanha a quantidade de pessoas que já se espreme do outro lado.
Quarenta e cinco longos minutos depois, o ônibus chega à estação do metrô. Ela quase não precisa fazer esforço para seguir o caminho, tão compacta está a multidão que deixa o coletivo. Lembra-se de uma propaganda de goma de mascar, e quase deseja que fosse, mesmo, possível simplesmente levantar os pés e se deixar levar, como a propaganda mostrava. No caminho para o embarque, na estação, a situação melhora um pouco. Ao menos todos estão um pouco mais espaçados, pode respirar enquanto anda. Na plataforma, precisa esperar o quarto trem que passa, para conseguir embarcar, tão espremida como no ônibus.
Finalmente chega ao trabalho. Corre a vestir o uniforme, está quase na hora da loja abrir, e pobre dela se não estiver a postos e sorridente quando isto acontecer. Ainda que o sorriso não vá durar muito tempo…
O movimento do dia está mais fraco que o normal. É fim de mês, todo mundo sem dinheiro e, para piorar, a chuva. Mesmo os corredores do shopping estão vazios. Sabe que o dia custará a passar. Dia parado é assim, duplamente ruim. Além de demorado, não rende muita coisa em vendas, vai ter de se desdobrar em outros dias para cumprir a quota.
A manhã termina de se arrastar. Pega a marmita na bolsa e vai para o refeitório do Shopping, para o almoço cujo cardápio nunca varia.
A manhã parada foi ruim por mais um motivo: enquanto organizava as roupas nas prateleiras da loja, teve tempo de pensar. E de lembrar-se.
Fazia tempo que o namoro com o Eduardo terminou. Ele seguiu a vida dele, ela não consegue seguir adiante com a dela. Algumas ficadas, quando consegue ir a uma balada, nada sério. Por muito tempo, chegou a esperar que ele voltasse. Mas nunca voltou.
Uma pequena caminhada, depois de comer, pelos corredores do shopping. A melhor opção para completar sua hora, se voltasse à loja, teria de voltar a trabalhar imediatamente, não valeria a pena. Gosta quando encontra alguma colega, para caminharem juntas. Não foi o caso, hoje. Mas parece ser sempre assim, dia que começa ruim, acaba pior.
Durante a tarde, ao menos consegue vender um pouco mais. Não é o melhor dos dias, mas ao menos não vai ficar tanto prejuízo para correr atrás nos últimos dias do mês. Até compensou ficar um pouquinho depois do horário, a última venda que fez, até que foi bastante boa.
E agora começa a pior hora do dia, a volta para casa. Se pela manhã parecia impossível ônibus e metrô mais cheios do que os que ela enfrentou, na volta o impossível se desmente.
Sempre pensa que seria bom conseguir um emprego mais perto de casa, mas sabe que as opções que teria não são das melhores. E conseguir morar mais perto do trabalho, não tem jeito. Então, se não tem como resolver, o negócio é aceitar…
Chega em casa, mais exausta da volta que do dia trabalhado. Banho, jantar, assistindo à novela, um pouco de conversa com a mãe, que sempre quer saber das novidades que não existem. Prepara a marmita para o dia seguinte, arroz, bife, ovo e verdura. O truque é não colocar feijão, para não azedar. Checa, mais uma vez, a hora de levantar-se, no celular, e vai dormir.
Amanhã, vai começar tudo de novo. A mesma rotina. Os mesmos passos.
Mas quem sabe aparece a chance de conversar com aquele rapaz novo e bonitinho da loja de sapatos?

Paralelas

(Texto publicado originalmente em blog interno do Banco do Brasil)

Ela acordou cedo, ou nem dormiu, na verdade. Já fazia um mês que o namorado terminara com ela, e todas as noites eram a mesma coisa, um alternar interminável entre sono aos sobressaltos e estar acordada, chorando.
Levantou-se, sabendo que estar na cama não a ajudaria em nada. Ao contrário, o melhor a fazer seria ajudar sua mãe com os afazeres para aquele dia, concluindo logo suas tarefas, antes do horário combinado com a amiga. Era o dia do aniversário da cidade, havia uma extensa programação comemorativa, e as duas haviam combinado há dias que iriam participar.
“Vai ser bom”, ela tentava convencer-se, “ao menos vai ser tanta coisa a fazer que nem vou me lembrar do Renato”.
A amiga chega por volta das 11horas. Saem imediatamente, uma longa viagem de ônibus até o centro da cidade. E, com o feriado, é muita sorte se o ônibus demorar menos de uma hora a passar...
Ele acordou tarde. Havia acordado antes, olhou o dia nublado pela janela e voltou a dormir. Era feriado, não precisava acordar cedo, afinal de contas. Pretendia participar da programação de aniversário da cidade, mas não tinha pressa alguma.
Levantou-se por volta do meio-dia. Toma um banho sem pressa e sai caminhando, em direção ao evento mais próximo.
Ela esperava um show melhor. Para tentar animar-se, divide com a amiga uma garrafa de vinho barato, comprado do ambulante a um preço que, definitivamente, não valia.
O show está animado, mas ele não compreende a razão de ter sido contratada uma banda de fora da cidade, com tantas bandas locais disponíveis.
Enquanto ele ouve as músicas, passeia pelo local. Apesar de tantos anos vivendo na cidade, esta é a primeira vez que consegue ir a um evento deste tipo.
Enquanto ouve as músicas, ela e a amiga dançam, pulam e bebem. Tudo é válido, para esquecer a dor que sente.
Terminado o show, ele dirige-se a um pequeno restaurante próximo, para uma refeição simples, mas que seja diferente de sua comida de todos os dias. Ela busca uma das muitas barracas que há no local, vendendo cachorros-quentes e outros lanches, para comer algo.
Depois da refeição, percebendo a chuva que se aproxima, ele volta para casa, sem pressa em assistir o show que vai começar no final da tarde. Ela e a amiga tentam o abrigo de uma marquise, mas a quantidade de pessoas que teve a mesma ideia não lhes permite grande sucesso.
As duas dividem mais uma garrafa de vinho para se esquentarem. E depois outra, para se alegrarem, ou comemorarem, ou esquecerem, o motivo já não mais importa. Enquanto elas bebem, ele dorme.
Começa o show, e dançando, em meio à aglomeração popular, elas nem se lembram mais do tanto que se molharam. E, em breve, as próprias roupas já estão bastante secas.
Por alguns instantes, ele questiona-se a respeito de sair novamente de casa. Acaba se convencendo de que ir é melhor que suportar o opressor sentimento de solidão que preenche todo o local.
Ela e a amiga afastam-se um pouco do palco principal e da agitação que o cerca, optando por acompanharem o show pelo telão. A imagem é ruim, mas não faz muita diferença, pois o que menos interessa é ver o que acontece no palco. O momento é para beber, dançar e esquecer.
Ele, ao contrário, prefere aproximar-se do palco, encantado pela novidade. Tantos anos, tantos shows que já perdera, constata agora um ambiente muito mais tranquilo do que sempre ouvira falar.
Não falta muito tempo para o final previsto do show, ele decide afastar-se do palco, de modo a ter menos problemas quando for para sair.
É neste momento que as paralelas se encontram.
Basta uma breve fração de segundo. Ela dança, ele caminha. Os olhos dos dois se conectam. No palco, a música que se transformou no hino extraoficial da cidade. Não é preciso usar palavras. Ele estende a mão, ela a segura. Ele a puxa para si. Abraçados, dançam, esquecendo-se de tudo e de todos. Trocam algumas palavras, ele pergunta o nome dela. “DÉni”, ela responde, forçando um falso sotaque inglês. Não pergunta o nome dele, nem ele diz.
A música termina, e também a dança. Um breve beijo no rosto, “obrigado por estes momentos”.
E as paralelas voltam a se desencontrar.

quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

São Paulo, 458 anos

Depois de algum tempo com o blog parado, não havia dia melhor para voltar a postar do que hoje, aniversário da cidade e do próprio blog.
E, dentro do espírito do blog, de retratar o quotidiano do centro desta cidade louca e maravilhosa, nada melhor que algumas imagens da festa de aniversário.
Queria começar com uma antiga propaganda, mas não a encontrei no youtube. Então começo por esta bela homenagem à cidade e ao maestro Tom Jobim, que vi no blog do Luis Nassif:


Em seguida, algumas fotos do meu passeio pelo centro da cidade, nesta comemoração de aniversário:

Chegando ao Anhangabaú
Quinteto de cordas, não entendi o nome

Show do Luan Santana

Caminhando no viaduto do Chá

Fotografando as fotógrafas

Passeio pela cidade, não consegui fazer


Pátio do Colégio

Show do Ney Matogrosso


(Certamente, caso estivesse presente, o prefeito de São Paulo não teria gostado de ouvir, ao final do show, a multidão na Praça da República gritando "Ei, Kassab, vai tomar no c*")

Voltando para casa

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Vira, Vira, Virada !!!

(Este texto eu recebi por e-mail do Adelson, autor do primeiro texto deste blog, e eu publico com a autorização dele. É um outro ponto de vista sobre a Virada Cultural, e acho interessante mostrar porque, para cada participante, foi um evento diferente.)

Queridos,

Mais um ano de VIRADA CULTURAL DE SÃO PAULO, não precisa dizer que a expectativa é grande, as atrações muitas, e o tempo (24 horas) curto, enfim faz-se o que é possível, aproveita-se o máximo.

Rita Lee é um ótimo começo, chegamos para vê-la no Palco Julio Prestes, leia-se em frente à  Sala São Paulo, um pouco antes das 18:00 hs, não estava muito cheio e o show em seguida começou, assim como um mar de gente foi se formando, quando vimos estava lotado, e o "transsetê" do pessoal num vai-e-vem contínuo até atrapalhava, afinal estavam ali para curtir o show ou para ficar andando de um lado para o outro ? Mas voltando ao show, Rita irreverente como sempre, malhou literalmente os políticos e as politicagens, apareceu com um cover do Michael Jackson desnecessário, cantou canções de nossas vidas, pena que o som estava um pouco fraco, não dava para escutar muito, mas para quem, gosta, estava ótimo.

Saímos dali em meio a um tumulto por causa da multidão, mas seguimos pela R.dos Andradas e fizemos o quarteirão, ali encontramos diversos bares cheios com pequenos grupos de samba, e dos bons, a Virada serve também para descobrirmos "points" em lugares os quais não estamos acostumados a passar, dali fomos para a Estação da Luz assistir ao Balé da Cidade, não deu para ver muito, tinha muita gente de pé na frente, assim prejudicou bastante a visão, mas o que pudemos ver pareceu interessante. Em seguida fomos assistir a Big Bands no Parque da Luz, mas imaginem o que faltava ? LUZ !!! O caminho até o coreto aonde aconteceria os shows no completo breu, muita gente voltou, nem se arriscou a entrar. Ficamos esperando por quase 40 min e nada de começar, os músicos estavam lá, mas sem eletricidade não era possível, falta de organização, mas graças a ter acontecido isso, saímos dali e nos surpreendemos na Pinacoteca com o "Quarteto 4 Estações", um grupo ótimo, músicas boas, sax bem tocado, valeu a pena.

A "Orquestra da Câmara da USP" no Palco da Luz foi nosso próximo destino, lotado, não conseguimos cadeiras para sentar, mas ficamos num lugar legal que dava para ver bem, a orquestra foi bem até a quarta música, a partir daí as pessoas começaram a sair , as músicas não atraíam a atenção, eram muito intimistas para um espaço aberto, o maestro pecou na escolha do repertório, se tivesse apresentado o mesmo de há duas semanas atrás no Auditório Ibirapuera, o resultado seria muito melhor, mas a minha "sobrinha" Fabiane estava linda tocando seu violino, mesmo de longe deu para ver. Êta "tio" coruja ! 

A banda cover dos Beatles era nosso próximo destino, mas não conseguimos chegar perto, estava lotado, desistimos e fomos para casa dar uma descansada e ouvir um pouco de reggae, no caminho uma paradinha para pastel e caldo de cana, tem coisa melhor ?

Marina Lima no Palco do Arouche seria meu próximo programa, mas uma deitadinha que pretendia ser de 40 min, se tornou em um sono até as 05:30 da manhã, perdi a chance de vê-la, mas não faltará oportunidade.

Pela manhã, fomos em direção ao Largo de São Bento, fui perambular pelo Centro Velho de São Paulo, ali uma grata surpresa, no Palco da Rua XV de Novembro encontrei uma cantora ótima, Lu Horta, voz e ritmo no ponto, vale a pena prestar atenção nela.

A "monstro" alado da Art Trash estava em frente ao CCBB, um contraste perfeito, um trabalho feito de lixo em frente a um dos mais belos edifícios do início do séc.XX de São Paulo, pena que este ano não era possível entrar na obra como ano passado, havia maior interatividade, as visões externa e interna se complementando.

A Praça do Patriarca, o Viaduto do Chá, a Praça Ramos me aguardavam para uma bela sessão de fotos, seus contrastes, as pessoas, as esculturas, tudo motivo para uma foto, nunca havia realmente reparado o quanto são bonitas as esculturas ao lado do Teatro Municipal, um belo trabalho do arquiteto italiano Luiz Brizzolara baseadas nas óperas de Carlos Gomes, vale a pena ver.

Na Praça da República, uma figueira enorme foi "ocupada" por seres humanos vestidos de branco encarapitados em seus galhos, uma visão estranha, mas ao mesmo tempo familiar para quem é do interior, quantas mangueiras, goiabeiras, cajazeiros, etc nós não "trepamos" em nossa infância ? Por isto o protesto através da "ocupação" de uma árvore, para nos alertar da necessidade de preservá-las é válido, será que algum dia conseguiremos ?

De volta ao Palco São João, o "Sossega Leão" anima a galera, um reggae/forró, se existe isso, mas ao menos me pareceu ser, muito legal, alegre, divertido. No Palco do Arouche o "A Cor do Som" e "Os Incríveis" me transportaram através do tempo, a boa MPB-POP de ontem e de sempre. De volta à São João o "Ska Cubano" literalmente arrasa, um ritmo maravilhoso, o povo dança até não poder mais.

A "Blitz", que queria tanto ver, acabou ficando para uma outra vez, fui tirar uma sonequinha e de novo perdi a hora, pena, mas em compensação assisti ao "RPM", as músicas que tanto conhecemos, os arranjos quase os mesmos, a voz inconfundível e a galera dançando e cantando tudo, poderia dizer que ainda existe um tanto de "mágica" aí, essa volta após 8 anos é bem vinda, ao menos para nós com nossos cabelos brancos quando temos, nossas cinturas mais "avantajadas", nossos rostos mais marcados, mas pelo que pude verificar, o espírito continua o mesmo, somos "jovens' com eternos olhares 43, à espreita ou à espera de revoluções por minuto, com um alvorecer sempre próximo depois de madrugadas vívidas.

O que me surpreendeu neste ano foi, muito mais que em anos anteriores, a presença de crianças acompanhando os pais, muitos com carrinhos de bebês e todos curtindo adoidado, ontem na Pinacoteca tinha uma garotinha linda e irrequieta, ia de um lado para o outro, parava, olhava, dançava um pouco e aplaudia, participava, hoje no show do RPM, um garotinho de uns 4 anos, se esbaldava dançando, esses são apenas 2 exemplos, mas havia milhares deles, que venham muitas mais, espero vê-las no próximo ano, pois esse é o público das Viradas do futuro. Até lá.

Beijos e abraços,

Adelson

P.S. : Este ano tive a companhia de minha irmã Wandirinha e dos meus amigos Bill e Sarah, saímos juntos, curtimos juntos, muito obrigado por participarem comigo de um evento que tanto curto.

domingo, 17 de abril de 2011

Não virei, mas estive lá

Passava um pouco do meio dia.Sob o sol forte, ao som da viola de 10 cordas de Almir Satter, começava a minha aventura. Mas vamos começar do começo.

Para quem, como eu, mora no centro de São Paulo, as movimentações para a Virada Cultural começaram bem antes do sábado. Já na terça-feira, começaram a chegar os banheiros químicos. Na quinta,começou a montagem dos palcos. Na sexta feira já haviam totens informativos espalhados pela cidade.

Eu pensei em começar a Virada Cultural pelo show da Rita Lee, mas acabei desistindo ao ouvir a previsão de 300mil pessoas no show. Previsão exagerada e errada, segundo vi no jornal, hoje, haviam 25mil pessoas, e estava tão tranquilo como tudo que participei. Paciência.

Escutei os primeiros sons da virada de dentro de casa mesmo, afinal estava a poucos metros do palco República. Mas, mesmo assim, acabei por não me animar a sair. Cheguei a pensar em algumas atrações da madrugada, como a batalha de sabres de luz às 4 horas no Anhangabau, mas não acordei.

Acabei mesmo saindo perto do meio-dia. Acabei por não levar nada comigo, assustado com alertas de possíveis assaltos. Me arrependi, todo mundo pode tirar fotos com câmeras e celulares, menos eu.

Mas tudo bem. Saí de casa, admirado por ver a inversão na cidade: as ruas, sempre ocupadas por carros, desta vez dominadas pelos pedestres. Mesmo naquelas onde o trânsito era permitido, como a Avenida Ipiranga, era a vez de os veículos avançarem cuidadosamente.

No centro da praça da República, uma árvore ocupada por pessoas em galhos e em redes, em protesto contra as árvores que foram derrubadas pela ação do homem.

Cheguei à rua Barão de Limeira, show do Almir Satter. Além de músicas instrumentais, outras bastante conhecidas, como Comitiva Esperança, Um Violeiro Toca e, para terminar, Chalana. Tudo entremeado com o carisma e as conversas do artista com a plateia.

Terminado o show, passei para a plateia do palco ao lado, na Avenida São João, onde a banda anglo-cubana Ska Cubano se apresentava. Apesar de apresentarem sucessos antigos, como Istanbul (Not Constantinople), Tequila e uma versão em espanhol, de Cantoras do Rádio, o público era muito mais composto de jovens. Boa parte reaggers, haviam dreads para todo lado. E muitos baseados, por todos os lados. Saí com os olhos irritados, mesmo que não tenha fumado. Devo dar destaque para a saxofonista do grupo, que deu um show a parte. Ponto para as mulheres.

Da São João para o Vale do Anhangabaú, passando por um palco montado no Paissandu, onde um grupo passava som diante de uma pequena plateia. Mas o meu objetivo estava um pouco mais adiante: na esquina da Avenida São João com a hoje inexistente Rua Formosa, um palco montado exclusivamente para uma única banda. Nele, Paul, John, George e Ringo se apresentavam. Não, na verdade eram Marcus Rampazzo, Fabio Colombini, Ricardo Felício, Ricardo Júnior e Edson (acredite!) Yoko: a banda Beatles 4ever, cover dos Beatles, em uma maratona ousada: a casa uma hora e meia, ao longo das 24 horas da Virada, tocaram as músicas de um dos discos da banda inglesa, totalizando os 16 discos originais dos Beatles. O disco que eu ouvi foi o Abbey Road, a partir do final de Come Together. No começo de Oh! Darling, o "Paul" ficou sem voz. Nada a estranhar, já era a 19ª hora da maratona. Por algum tempo, quem assumiu o vocal foi o "Ringo".

Durante a apresentação de Here Comes The Sun, alguns metros atrás da plateia, em um cabo de aço sustentado por um guindaste, dois acrobatas, vestidos de Batman e Mulher Maravilha, faziam performances no ar. Mas o mais interessante, naquele palco, foi ver desde jovens na faixa de 10, 12 anos, até senhores na faixa dos 60 acompanhando e cantando junto com a banda.

Terminado o show, fiz um rápido passeio pelo Vale do Anhangabaú, sem parar na arena de luta que havia, onde estava acontecendo uma simulação humorística de uma luta de boxe, ou no palco sobre o Viaduto do Chá, no show de Stand-Up. Subi a praça Ramos de Azevedo, pensando em uma pequena pausa para um descanso e comer alguma coisa. Na saida da praça, uma instalação com pessoas penduradas em uma armação, e dois rapazes deitados na rua, segurando guarda-chuvas.

Em frente ao teatro, quase fui atropelado por um Na'vi. Na verdade um cosplay, que estava seguindo para a lateral do Teatro Municipal, onde um "trio elétrico" tocando música japonesa e cheio de cosplayers.

Claro, não poderiam faltar os artistas de rua de sempre. Que se aproveitaram da virada para aparecerem mais. Inclusive o eterno grupo de indígenas equatorianos.

Depois de comer e descansar um pouco, voltei à maratona. Às 17horas, a última sessão de Stand Up comedy da virada. Ainda que eu considere que alguns dos comediantes que se apresentaram, como a personagem Nina de "A praça é nossa" e a dupla Comida dos Astros, não posso negar que foram mais de duas horas de muitos risos, terminando com as apresentações de Rafinha Bastos e Danilo Gentili, os dois que eu mais queria ver.

Terminada a apresentação de Stand-up, ainda tive a sorte, ao passar novamente pelo palco República, na volta, de ouvir a última música e o bis cantados pela suave voz de Paulinho da Viola, encerrando a virada. E encerrando o que chamei, no começo do texto de aventura, mas levando em conta que não tive e nem vi nenhuma ocorrência digna de nota, posso e devo mudar o temo para "descoberta".

E agora, aguardo a próxima.